Um dia quis conhecer o mais fundo de ti.
Mascarei-me de molécula de oxigénio e desfiz-me em pedacinhos para o vento não refilar o peso de memórias que transporto. E lá fui eu… devagarinho, despido, sentindo o palpitar da minha bolinha pequenina (my heart), fria de ausência.
Cheguei perto de ti e nem tive tempo para te olhar porque, de súbito, senti uma corrente que me puxava. Foi um turbilhão que demorou poucos segundos e só quando acabou percebi o que tinha acontecido.
Inspiraste-me.
Por momentos senti-me perdido. Mas logo me encontrei. Dentro de ti.
E veio mais uma corrente de ar que me empurrou ainda mais para dentro. No meio de tanto liquido viscoso, fui levado para o teu sangue. O teu coração bombeou-me e vagueei por todos os teus vasos arteriais. Percorri-te. Nadei com as vitaminas. Contigo.
És tão pequena. Mas ao mesmo tempo tão cheia. (como pode haver espaço para mim?)
Cheguei à bolsa preenchida com enzimas, proteínas, lipidos, glícidos e no meio daquela confusão, encontrei o desespero, e com força agarrei nele; levei-o comigo. Do lado esquerdo os glóbulos brancos destruíam a angustia que teimava em entrar.
Senti-me apertado nos teus capilares e vi, o meu redor escurecer... aumentando o ácido à minha volta, e ao entrar num novo vaso venoso fui levado até ao coração... Mais ao fundo estava o amor, velho, cansado, perdido.
Desfiz-me num pedacinho ainda mais pequeno e com jeitinho tirei a minha bolinha palpitante que me mantém vivo e coloquei-a com astúcia junto do amor. Harmoniosa, a bolinha aconchegou o amor e fundiram-se. Com jeitinho escrevi a palavra secreta: AMO-TE mas mais uma vez, de repente, fui levado. Não me deram tempo para me despedir de ti.
O teu coração lançou-me como se tivesse medo que ocupasse espaço em demasia, que deixasse algo mais do que meras lembranças, e cheguei novamente aos pulmões.
Espirraste e expulsaste-me para fora de ti.
Saí, incompleto. Ficas-te com o meu coração.
Eu sou feito de ti. Sou repleto de vestígios teus…E assim vivo, sem coração.
Só para que fiques a saber... entreguei-to, nesse frio dia.
Só quis ser o oxigénio que alimentava as tuas células, a energia que fazia bater o teu coração. Quis misturar-me com a hemoglobina presente no teu sangue e ser bombeado para todo o teu corpo. Tinhas de me renovar nos teus pulmões, mas deixaste que esta paixão se fosse transformando em ácido carbónico... e que eu fosse libertado através das tuas vias aéreas, para fora de ti, sob a forma de dióxido de carbono sem qualquer valor... sem qualquer qualidade.
Gasto!
Lágrima Doce*